Para empresários, crise institucional afasta retomada da economia: “Bolsonaro puxou a corda”

09 setembro 2021


As instabilidades institucionais que afetam o país e que ganharam nova proporção após os atos de Sete de Setembro deixam o setor produtivo mais longe da retomada.

Executivos e presidentes de associações afirmam que a tensão entre Poderes dificulta a atração de investimentos, mina os esforços para aprovação de reformas e piora o ambiente de negócios.

A turbulência é mais um problema para atividades afetadas por escassez de matérias-primas, crise hídrica e os efeitos da pandemia, segundo representantes de setores que vão do varejo, ao setor automotivo, têxteis, plásticos, aéreo, turismo, telecomunicações e infraestrutura ouvidos pelo jornal O Globo.

A reação geral é de cansaço com as crises em série, e o recado é claro: o empresariado quer um ambiente de estabilidade que permita a retomada de atividades.

Veja a avaliação dos empresários:

O presidente da Anfavea, a associação das montadoras, Luiz Carlos Moraes, diz que está difícil defender investimentos em projetos junto às matrizes no momento, especialmente porque há ociosidade em diversas unidades e concorrência de países com custo de produção menor, logística mais eficiente e ambiente político mais tranquilo.

“O ambiente que estamos passando não é o melhor para defender projetos junto às matrizes”, disse Moraes, citando que a instabilidade traz volatilidade ao câmbio e à Bolsa, o que pode adiar investimentos.

Ele lembrou que o setor já está com dificuldades por causa dos problemas de fornecimento de peças. Moraes explica que a fuga de investimentos é um tema que sempre preocupa o setor.

“Esperamos que o Supremo, do ponto de vista jurídico, encontre uma solução e, do ponto de vista político, que o Congresso tenha a decisão mais sábia possível, ouvindo a sociedade. A imagem do país já não é boa, esses últimos eventos criam maiores preocupações em nossas matrizes”.

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, frisa que é importante ter “equilíbrio e calma no ambiente institucional” no Brasil agora:

“Precisamos ter foco em confiança, geração de emprego e retomada da economia, principalmente depois da pandemia. A instabilidade institucional aumenta a insegurança jurídica, o risco-Brasil, traz danos à imagem, como agora, com muitas fronteiras fechadas para brasileiros em função da reputação do Brasil”.

Para o presidente da Abiplast, do setor de plásticos, e vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, o presidente Jair Bolsonaro foi longe demais nos discursos do Sete de Setembro.

“Bolsonaro puxou demais a corda, a ponto de que isso pode não ter volta. É muito ruim porque tira o foco de uma agenda de reformas que o país precisa, de recuperação econômica”, afirmou, destacando que é preciso esperar agora a “poeira baixar” para ver qual o melhor caminho a seguir do ponto de vista político.

A turbulência dos mercados financeiros vai contaminar os negócios, destaca o presidente da Abit, do setor têxtil, Fernando Pimentel. Ele cita o aumento da Taxa Selic e o impacto no mercado de juros futuros, que afeta o crédito.

“O custo do capital está mais alto, e isso prejudica todas as decisões de investimento. Toda essa polarização não é simples de resolver, mas deve ao menos ser atenuada. O momento é de botar água na fervura porque quem perde é o país e quem mais perde são os mais pobres”.

O presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Nabil Sahyoun, afirmou que o clima de instabilidade política atrapalha o andamento das reformas.

Ele lembra que o Senado cancelou as sessões nesta semana em razão da turbulência e destaca que as reformas são cruciais para criar postos de trabalho. O país ainda tem taxa de desemprego de 14,1%.

“O nervosismo está à flor da pele com as consequências da pandemia na economia, crescimento da pobreza, desemprego. O setor produtivo precisa de tranquilidade para poder trabalhar”, disse.

Para o setor de turismo, o momento da turbulência não poderia ser pior. Ainda dando os primeiros passos em uma trajetória de retomada, teme que a tensão entre Poderes afugente visitantes.

“Temos eventos programados a partir de outubro e essa confusão gera instabilidade. O dólar sobe, o capital estrangeiro vai embora. Cada dia uma ameaça, nunca se viu nada igual. Esperamos a reabertura para o mercado internacional no fim do ano, mas quem quer visitar um país em convulsão? Isso é jogar a recuperação para cada vez mais longe”, afirmou Alfredo Lopes, à frente da Hotéis Rio, que representa a hotelaria carioca.

Em setores de infraestrutura, a avaliação é que a crise afeta a percepção de risco acerca de investimentos bilionários que precisam ser feitos para que o Brasil avance em áreas como energia e telecomunicações.

Um executivo do setor de óleo e gás, que pediu para não ser identificado, se queixou da perda de tempo e de recursos e diz que já precisou relatar ao conselho internacional o que ocorreu no país durante o feriado.

O que está em jogo, diz, são leilões de petróleo previstos para o próximo ano. O componente político entra na formação do preço e quanto mais turbulência, menor o valor do ativo. No setor de telecomunicações, a incerteza é sobre o impacto da crise no leilão do 5G, previsto para este ano.

Em nota, Paulo Pedrosa, presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), defendeu diálogo para o país sair da crise.

“Os feitos da instabilidade política precisam ser enfrentados com uma agenda de conciliação para não afetar a retomada do crescimento.”

Autor/Veículo: O Globo

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